Por Laila Santos
O ex-atacante do Azulão, artilheiro e vice-campeão da Copa João Havelange (Brasileirão de 2000), Adhemar Ferreira, em entrevista ao Jogo em Pauta, contou parte de sua história com o time do ABC e algumas de suas opiniões e feitos no mundo da bola, como o projeto ‘Bom de Bola, Bom na Escola’ que ressalta a importância do estudo em meio ao sonho dos gramados.
O que o futebol foi para você e o que te proporcionou?
“Ah, o futebol foi minha vida. Ele é uma ferramenta muito boa para inserção na sociedade, na socialização. Não é apenas o ganhar ou perder, inclui uma série de situações, como o respeito, obediência, companheirismo, vontade de vencer… E ele simula, mais ou menos, o que é a sua vida. Nem sempre você vai ter vitórias, mas nas derrotas a gente aprende muito mais. E aí você vê o quanto você pode superar e até onde você pode chegar. Então, o futebol, ele… É a minha vida, é a minha história.”

f: arquivo pessoal
Como foi a história de convencer o Tulio Maravilha a voltar ao Botafogo para conseguir a titularidade no Azulão? Como ele reagiu depois de saber disso?
“Em relação à situação do Túlio… Não é que eu convenci… Ele veio me perguntar o que eu achava, porque o Botafogo tinha feito uma proposta nova para ele e ia pagar o que estava atrasado. Ele tinha sido artilheiro do Campeonato Paulista Série A2 e eu o primeiro reserva dele. Aí eu brinquei: não, vai que é boa para você cara, se quiser eu te levo até ali, em Congonhas, e você pega a ponte aérea São Paulo-Rio e chega lá rapidinho.”
Mas, ”‘tá’ louco, o Túlio é uma pessoa fora de série e aprendi muito com ele no São Caetano”.
Você, que é brincalhão e foi um jogador assim, enxerga a descontração no futebol atualmente como? Acha que influi na qualidade dos jogadores de hoje, como é muito falado?

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“Sobre brincadeiras, humor, acho que o futebol é muito sério. Ele traz muita seriedade, envolve muitos valores, então acaba com que as pessoas fiquem tensas. Mas, na verdade, você tem que levar de boa, isso você tem que levar para o treino. É óbvio que, às vezes no jogo, não dá para você dar risada para o seu adversário e ficar mostrando os dentinhos para ele, né? Você tem que ser firme e tem que falar duro as vezes, mas a descontração, a alegria nos treinos, nos vestiários, nas concentrações… Ela tem que existir. Isso é muito individual, do pessoal de cada jogador. A minha vida foi toda assim, em brincadeiras, em bom humor, e eu não me arrependo de nada disso, porque, ao invés de criar inimigos, você ganha admiradores e amigos.”
Como está sua relação com o São Caetano e com o torcedor?
“A minha relação com o São Caetano, hoje, é a de torcedor. Eu tenho pouco contato com o pessoal lá dentro, com o presidente novo e com a gestão nova que está lá. Gostaria de ter um contato maior. Eu acho que o futebol, hoje, já melhorou bastante enquanto a isso, acho que um ex-atleta, hoje, tem um pouco mais de valorização; não é como lá fora, mas já tem um pouquinho mais de valorização. E eu acho que o São Caetano poderia tomar esse rumo também, de valorizar ex-atletas e colocar para trabalhar, não só na coordenação, mas nas categorias de base e, quem sabe, até no profissional”.
Mas a minha torcida… Como torcedor agora, é para que o São Caetano volte a trilhar de onde ele nunca deveria ter saído, que é no top do futebol brasileiro.”
Qual sua análise da atual situação do Azulão, tendo participado do plano de reconstrução?
“Então… A atual situação eu não consigo, ainda, visualizar nada de próspero, de coisas boas, porque a gente não tem muita informação lá de dentro. Eu participei daquele início de reconstrução, mas foi um início turbulento, ainda assim fomos campeões da Copa Paulista. Mas aí teve toda aquela briga entre um investidor e o presidente, que acabou com o São Caetano ficando de lado, e hoje está nessa situação. Mas vamos torcer… vamos torcer que vai dar tudo certo!”
Você sentiu muita diferença entre o futebol alemão, japonês, sul-coreano e brasileiro?
“Em relação ao futebol… Lógico que o futebol brasileiro é um futebol mais técnico, menos pegado (hoje já até um pouquinho mais). Na época que eu cheguei, na Alemanha, era uma das melhores ligas do mundo, ali a Bundesliga, era bem diferente. O futebol japonês já é um futebol também técnico, de correria. Também estive no futebol sul-coreano que já é um pouco mais pegado, mais forte, mais pancadaria. Mas resumindo, a linguagem universal do futebol, no meu caso que era atacante, é ir lá e fazer gol.”
Como foi a experiência de estar tanto dentro de campo quanto fora (jogador, técnico e comentarista)?
“É, essa experiência de ter sido jogador é uma coisa que… Só quem foi é quem pode falar. Então, a gente vê, hoje em dia, muitos comentaristas (sem cornetar, e já cornetando, né?) que nunca chutaram uma bolinha, nunca foram nem titular no condomínio onde moram. E aí ficam criticando abertamente um atleta, sem conhecer todos os fatos, todo o contexto da história. Hoje, simplesmente, o cara senta na poltrona, lá na televisão, e “ah, porque o cara não tá numa fase boa…”. Não sabe em relação a família do rapaz, casamento, algum problema familiar, enfim, uma série de situações. Então, como eu convivi lá dentro, eu procuro tirar mais informações para eu poder fazer um julgamento.
Também trabalhei como comentarista, então eu media um pouco mais as minhas palavras, criticava ali num lance, em situação de jogo, mas não a vida particular dele e depois, também, trabalhando com os jogadores, a gente pode entender que não é fácil. “A pressão psicológica que existe, hoje, em cima de um jogador de base é muito grande e se não for bem administrada, o garoto não consegue dar sequência na sua carreira.”
Você tem alguma relação a mais com a camisa 18? Se sim, qual?

f: arquivo pessoal
“Então, a camisa 18, ela, naquela época, era número de inscrição no campeonato brasileiro. Assim como é hoje também, não era de 1 a 11, não tinha, logo no começo.
E aí, quem me indicou a camisa 18, na verdade, foi o Saul Klein, o filho do dono da ‘Casas Bahia’, ele que falou que a 18 dava sorte, a gente sempre conversava, ele foi uma pessoa que me incentivou muito. Eu acredito que ele foi o maior investidor e incentivador do São Caetano, juntamente com o prefeito Sr. Luiz Olinto Tortorello, o Nairo Ferreira esteve na administração, mas o grande mantenedor lá, foi o Saul Klein.”
Poderia falar um pouco do projeto “Bom de Bola, Bom na Escola”?
“Então, o projeto ‘Bom de Bola, Bom na Escola’, para os dias atuais eu trocaria o nome viu, porque o bom de bola, geralmente, não é bom na escola e é engraçado que as crianças gostam do futebol, mas querem deixar o estudo um pouco de lado. Por isso que foi montado o projeto, para que elas possam ter um pouquinho mais de interesse, e trabalhar o futebol e o estudo paralelamente. Porque poucos se tornarão atletas profissionais e caso isso não venha acontecer, que também é bem normal, eles possam estar estudados para encarar a vida de uma maneira mais tranquila. E é isso, minha vida se resume nisso aí, é futebol, São Caetano e futebol.”

f: arquivo pessoal
O que você acha de SAF? Acha que seria uma boa para o São Caetano?
“Então, essa história de SAF ainda é tudo muito novo, ninguém sabe como funciona direito. O que a gente tem visto é que alguns clubes tem dado certo, tem crescido, saído do buraco e tem melhorado.
Mas precisamos aguardar, dar o tempo ao tempo, para saber se isso vai ser, realmente, a solução para o futebol brasileiro.”