Futebol e Carreira Acadêmica: Lições de Hergos Couto

Por Ronaldo Silva e Arthur Dafs

O ex-jogador de futebol Hergos Couto em entrevista ao comentarista esportivo Ronaldo Silva retratou a sua decisão por uma carreira acadêmica, sendo essa escolha ainda como jogador profissional, e quais foram os reais motivos nos bastidores do futebol na qual proporcionou a ele tal importante decisão, e entre as perguntas Hergos ressaltou o quanto o jovem atleta deve investir por um desejo de sucesso no esporte, pois para o professor universitário paraense: “todo sonho é válido e isso traz sentido à vida”.

f: Arquivo Pessoal

Foi difícil para você conciliar os estudos e o futebol, devido a sequência de treinamentos, concentrações e partidas de futebol?

Foi muito difícil, conciliar os horários de treinamentos com os do colégio, e posteriormente da universidade, exigiu de mim um esforço muito grande para fazer as duas atividades bem feitas. Ambas requerem muita dedicação, não apenas no momento em que se está no campo ou em sala de aula, pois sabe-se que o descanso, assim como as tarefas acadêmicas são realizadas em horário distinto. Lembro-me bem que se não estava treinando, estava no quarto do alojamento do clube estudando os conteúdos acadêmicos, ainda assim era preciso equilibrar o tempo de lazer com as responsabilidades esportivas e estudantis.

É preciso mencionar que muitas pessoas me ajudaram diretamente e indiretamente, a saber: professores, colegas do clube, do colégio/universidade, funcionários do clube (cozinheiras, motoristas e etc).O cansaço era grande, mas a vontade e dedicação de obter uma formação acadêmica, assim como de me tornar jogador profissional de um grande clube eram maiores.

O futebol lhe ajudou financeiramente, no sustento dos estudos?

Não, porém o futebol abriu as portas para que eu me formasse tendo bolsa de estudos em praticamente todas as minhas formações, a saber: Administração de Empresas, Educação Física, Pedagogia, Mestrado em Educação Física e Doutorado em Educação.

Como sabemos, o tempo de carreira de um jogador é curta e nem todos os jogadores recebem um alto salário. Foi pensando nisso que você decidiu cursar uma graduação, em seguida o mestrado e doutorado voltado para o esporte?

Claro que qualquer jogador de futebol profissional busca a realização financeira, ascender economicamente para garantir o presente e perspectivar o futuro, mas não foi esse o motivo que me fez abandonar o futebol, e sim o que ocorre nos bastidores. Quando percebi que não poderia ser o “autor e ator principal” da minha história de vida, vi que era o momento de mudar de profissão, de buscar a realização profissional em um segmento em que eu tivesse mais autonomia e tomada de decisões que determinassem meu fracasso ou sucesso. No futebol profissional os jogadores são mercadorias, podem ser negociados, emprestados, vendidos, trocados e inclusive descartados como coisa, como mero objeto. Por me posicionar como um jogador que analisava criticamente o cenário futebolístico, decidi que não poderia ficar a mercê de dirigentes e de seus interesses escusos, portanto decidi interromper minha carreira no futebol e mudei os rumos da minha trajetória profissional.

Em um de teus livros, você relata decepções.

As decepções estão relacionadas ao futebol de campo ou no contexto geral futebolístico, tais como empresários de jogadores, atletas e diretores da mesma equipe  em que você participava?

Sim, o ambiente futebolístico é permeado por situações bem conflituosas, há muitos interesses em jogo, e como falei anteriormente o jogador de futebol é uma mercadoria, é valorizado quando está na vitrine, ou seja, quando está jogando e desempenhando para a equipe.  É preciso lembrar que o futebol é um esporte de muito contato, o esforço físico empenhado nos treinos e jogos, e a disputa com os adversários são fatores que podem desencadear lesões sérias podendo levar o jogador a ficar dias, meses em recuperação, e este tempo sem jogar, pode desvalorizar, colocar em descrédito o atleta, reafirmando a questão da mercadoria que caracteriza o jogador. Outras questões como engodos, apadrinhamentos, interesses diversos que permeiam a relação empresário/atleta, diretor/atleta também são causas de frustrações no futebol, quando o dinheiro fala mais alto a dignidade humana se perde, se coloca em xeque. Por ser um ambiente de muita competição, há igualmente rusgas em algumas relações entre os próprios jogadores da mesma equipe, contendas, desentendimentos e vias de fatos são situações que ocorrem no cenário esportivo, e no futebol não é diferente.

Que conselho você dá aos jovens atletas que pretendem atuar numa carreira de modalidade esportiva?

Acho que é importante sonhar, todo sonho é válido e isso traz sentido à vida. Logo, todo jovem esportista, independente do sexo, deve investir em seu desejo, claro, se reunir as aptidões necessárias para a prática de um determinado esporte. Mas, sobretudo, penso que é importante, em conjunto, independente do esforço qual lhe cause, buscar conciliar a formação escolar com a formação esportiva, pois além de oferecer uma visão de mundo mais ampla, de contribuir para a formação humana, crítica, autônoma e reflexiva, preparando para o exercício da cidadania na e em sociedade.

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