Entrevista Exclusiva com Hergos Couto sobre sua Carreira no Futebol

Por Rodolfo Henrique e Arthur Dafs

O comentarista esportivo Rodolfo Henrique conversou com o ex-jogador de futebol Hergos Couto, nesta entrevista – parte 1, o comentarista destacou a carreira de Hergos dentro de campo, ressaltando os momentos sobre o gramado. E contando seus desafios, conquistas e superações, desde os momentos no time de base no Corinthians até o pendurar das chuteiras, sendo considerado ainda um jovem para o fim da carreira no futebol.

Jogar no Corinthians, na década de 90, nos conte um pouco desse momento vivido no time?

    Cheguei no Corinthians em 1989 para o juvenil do clube. Em 1990, já no juniores, fui convocado para a seleção paulista. Na época, o treinador do juniores assumiu interinamente o profissional e me promoveu para treinar com os profissionais, orientando-me a não ir para a seleção paulista. Em seguida, contrataram o Nelsinho Batista e tive que retornar ao juniores. Em 1992, com o Cilinho, novamente ascendi ao profissional e fui convocado pela primeira vez no jogo contra o XV de Jaú, no Campeonato Paulista; fiquei no banco, mas não entrei. Este treinador acreditava que eu poderia me tornar titular do clube em pouco tempo, mas, infelizmente, ele não permaneceu. Em 1993, subi em definitivo; o técnico novamente era Nelsinho Batista e ele me convocou diversas vezes para os jogos do Campeonato Paulista. No Torneio Rio-São Paulo, fiz minha estreia contra a Portuguesa. No mesmo ano, já com o Mário Sérgio como treinador, joguei como titular contra o Flamengo no Maracanã, no Campeonato Brasileiro, e tive a felicidade de fazer um gol neste jogo, que terminou empatado em 1×1.

    Participar do elenco dos jogadores profissionais do Corinthians foi uma honra, uma experiência única, um sonho realizado, ali aprendi diversos saberes, não só os que se relacionam a prática do futebol, mas de valores, princípios e até de sobrevivência, o ambiente futebolístico é permeado por diferentes sentimentos, alguns muito valiosos, outros nem tanto, é um espaço que também há muita vaidade, e esse é um dos aspectos que poucos seres humanos sabem administrar bem.

    Atuar em campo de altos desafios? como foi sua experiência no futebol boliviano – de fato sua força de oxigênio por lá?

    Foi uma experiência nova, eu tinha curiosidade em jogar fora do Brasil, perceber como era o estilo de jogo, a cultura, língua, hábitos e costumes de pessoas de outro país. Lá fui tratado como um ídolo, logo na minha estreia em La Paz contra o Bolívar, fiz um gol de 45 metros, percebi que o goleiro estava adiantado e com um chute certeiro consegui fazer um gol maravilhoso.

    Sim, tive muita dificuldade em jogar na altitude, de fato é preciso uma adequada adaptação para se jogar em ambientes que tenham altitude, o organismo reage de maneira diferente, cansa-se rapidamente, a bola fica mais rápida e o esforço é maior. No começo até para dormir era difícil, parecia que faltava oxigênio. Mas fora isso, foi uma experiência incrível, os torcedores nutriam por mim um carinho e respeito enorme, assim como a imprensa e companheiros de equipe.

    Em um jogo contra o The Strongest, o treinador, devido a altitude, resolveu me deixar no banco, no intervalo, já perdendo por 3×0 ele resolveu me colocar no jogo. Entrei no afã de acender a equipe buscando uma reação, mas fui ingênuo demais, com 30 minutos estava totalmente desgastado, andava em campo de tão cansado e acabei sendo substituído. Possivelmente a maior vergonha que passei em minha carreira, rsrsrsrs.

    Copa São Paulo de 1993, conte nos como chegou ao auge naquele time e ainda conquistar o vice campeonato daquele ano?

    f: Reprodução

    Era um time muito talentoso, vários de nós treinávamos junto aos profissionais e tínhamos alguma segurança de que faríamos parte do elenco principal em pouco tempo, como de fato ocorreu. Nossa equipe era muito entrosada e individualmente havia jogadores que poderiam decidir uma partida a qualquer momento. Após a partida contra o Grêmio no Pacaembu, em que vencemos por 5 x 1, um jornalista da Rede Bandeirantes me informou que eu tinha sido convocado para a Seleção Brasileira de Juniores que disputaria o mundial na Austrália, mais infelizmente o meu nome foi tirado da lista devido ao meu ano de nascimento que excedia o permitido para participar da competição. Mesmo assim fiquei lisonjeado com a notícia, pois refletia o reconhecimento a qualidade do meu desempenho na Copa São Paulo de Juniores.

    Quanto a sensação de ser vice campeão, considero um sentimento amargo, não gosto de rever os lances daquela partida. Fizemos uma campanha maravilhosa, lotávamos os estádios em que jogamos, sentimos o calor e o carinho da torcida corinthiana e esperávamos retribuir com o título, mas não foi possível. O São Paulo também tinha uma grande equipe, com grandes jogadores e a vitória poderia acontecer para qualquer uma das equipes, o resultado foi 4×3, foi muito disputado, mas não foi o nosso dia.

    Gol no maracanã, um instante épico em sua carreira, e jogar no time principal de um grande clube, conte nos um pouco dessa sua experiência naquele ano.

    Rodolfo, sinceramente eu esperava jogar mais vezes naquele ano, fui convocado diversas vezes no Campeonato Paulista (inclusive nos 2 jogos da final contra o Palmeiras), no torneio Rio São Paulo, ainda quando técnico era o Nelsinho Batista. Nos próprios treinos percebia que poderia ter tido mais oportunidades, já que nos treinamentos fazia gols e meu desempenho era perceptível entre os outros jogadores, mas não foi o que ocorreu. Mesmo assim nas duas partidas em que tive a oportunidade de jogar, tive um bom desempenho marcando, inclusive um gol no Flamengo em pleno Maracanã lotado, já sob o comando do Mário Sérgio, que foi um treinador que prometia mais minutagem em campo, se ele continuasse no clube, provavelmente teria mais oportunidades.

    Quanto a sensação de ter feito o gol, de fato é indescritível, fazer a torcida Corinthiana vibrar e ao mesmo tempo calar a torcida rubro-negra no Rio de Janeiro é uma sensação inesquecível, ímpar, e que embala as minhas melhores lembranças. No momento do gol eu queria correr para a torcida Corinthiana, mas os companheiros me abraçaram e me contiveram, assim não pude ir para a galera, naquele momento realizara um sonho de criança.

    O momento de parar no futebol profissional, como se deu a decisão?

    Foi uma decisão difícil, porém pensada. Sempre me coloquei como um jogador que refletia sobre o ambiente futebolístico, tinha plena convicção de que não tínhamos muita “vez e voz” e que nosso caminho era determinado pelos dirigentes, qualquer reação contrária a decisão deles, éramos punidos com afastamento ou indiferença, sentia que éramos descartáveis, e por ser crítico, não concordava em não ser o “autor e ator principal” de minha vida. Antes de tomar esta decisão, tinha sido capitão de uma equipe da série B do brasileiro, após esta experiência, decidi abandonar a carreira profissional de jogador de futebol. Não fiquei frustrado, mas decepcionado com o ambiente interno, com os bastidores do futebol. Posteriormente, já no ambiente acadêmico, fiz minha Tese de Doutorado que pesquisava as opressões no cenário futebolístico.

    Após interromper em definitivo a sua carreira nos gramados, você recebeu alguma oportunidade para uma possível volta ao campo?

    Em 2002, quando já cursava o segundo ano do curso de educação física, recebi uma boa proposta para jogar na China, cheguei a assinar um contrato com os empresários em São Paulo, caso o negócio se efetivasse, e viajei para Pequim, ao chegar fiquei sabendo que o campeonato chinês estava paralisado devido à Copa do Mundo, ainda me levaram para Xangai, onde jantei com o diretor de um clube da 1ª divisão chinesa, o combinado foi de que eu retornaria para a China assim que o campeonato reiniciasse. Após 15 dias na China, retornei a São Paulo, continuei o curso de Educação Física e não mantive contato com os empresários. Após 02 anos, devido ao meu desempenho acadêmico, fui contratado pela universidade que me formei para ministrar aula no mesmo curso que me formara, ali iniciei minha trajetória acadêmica que já perdura por 20 anos.

    Em breve publicaremos a parte 2 dessa entrevista exclusiva com Hergos Couto sobre sua carreira acadêmica após encerrar sua vida profissional nos gramados.

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